O desporto português e a hipocrisia

Por muito que isso me custe, Portugal não é uma potência mundial ao nível do desporto. Excepção feita ao hóquei em patins – e nos últimos tempos as coisas nem aí têm corrido bem... -, o nosso País é competitivo em algumas modalidades, mas não consegue entrar, de forma regular, nas discussões pelos títulos europeus, mundiais ou olímpicos. Ou até faz parte do lote de potenciais candidatos (como sucede actualmente com o futebol) mas, objectivamente, nunca conquistou o lugar cimeiro das provas mais importantes ao nível de selecções. E individualmente a situação não é muito melhor...

Quando, por exemplo, olhamos para Espanha, França ou Itália tudo é diferente. Esses países, ao contrário do que muito boa gente pensa, não são apenas fortes no futebol. Difícil é encontrar desportos com algum mediatismo em que essas nações não sejam protagonistas. É verdade que possuir uma base de recrutamento maior (leia-se população) ajuda muito, da mesma forma que ter mais dinheiro e infraestruturas também contribui para que, com regularidade, se suba a patamares mais altos. Mas, desenganem-se, isso não é o principal. A grande diferença é a cultura. Ou melhor, a falta dela, no nosso caso.

Portugal é um País de futebol. O resto é secundário para não dizer terciário. É errado, mas é assim. E tudo porque, ao longo dos tempos, a sociedade nunca fez um esforço para ter uma visão mais abrangente. De quem é a culpa? De todos nós, incluindo a imprensa que, verdade seja dita, sempre preferiu destacar um treino das equipas de futebol de Benfica, Sporting ou FC Porto a enaltecer um feito de alguém das modalidades, sejam elas amadoras, profissionais ou “semi”.

O curioso, no meio de tudo isto, é verificar depois a histeria que assola a Nação quando, de repente, surgem figuras como Nelson Évora, Vanessa Fernandes ou Telma Monteiro a “limpar” medalhas a torto e a direito. Num ápice, parece que todos os portugueses sempre perceberam (ou tentaram) de atletismo, triatlo ou judo. Enfim, é a hipocrisia do costume.

Com um pouco de sorte, pode ser que também as selecções de basquetebol e de râguebi consigam, nos próximos dias, envergonhar muitos portugueses. “Basta” que ganhem um joguinho. Não vai ser fácil, mas à confiança, o melhor é algumas pessoas começarem a treinar os discursos/textos de ocasião.

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